Nos últimos 40 anos, o pesquisador, folclorista e músico catarinense Vicente Telles, 85, tem dedicado a vida à missão de tirar das sombras parte ainda sepulcra do legado da Guerra do Contestado (1912-1914), mais precisamente do povo caboclo: os “vencidos” daquele que foi o maior conflito bélico ocorrido no Brasil. Na colheita de relatos e histórias de remanescentes e descendentes construiu um peculiar e rico cabedal memorial que se traduziu em textos, palestras e na música. Sua mais recente obra, Aquarela do Contestado, sai do papel para virar um espetáculo com estreia marcada para os dias 4 (20h30) e 5 (20h) de março, em duas sessões com entrada gratuita (veja o serviço), no Teatro Pedro Ivo, em Florianópolis.
Aquarela do Contestado foi composta por Vicente em parceria com filho, músico, produtor musical e pianista Vicente de Paula Telles e traz nas vozes a cantora e nora Nancy Lima. O projeto ganhou forma ainda em 2016, pelo estímulo do jornalista e pesquisador Moacir Pereira, autor do livro Vicente Telles: O Mensageiro do Contestado (Editora Insular, 2016). A adaptação para os palcos ganhou o reforço do instrumentista e compositor Guinha Ramires na direção musical, da Hedra Rockenbach na direção de palco e som, do ator e diretor Nazareno Silva no roteiro, e do músico e produtor Nani Lobo na produção musical. A produção geral ficou a cargo da Orth Produções e tem o apoio da Fundação Catarinense de Cultura (FCC) e da Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esportes.
Nascido em Irani e neto de um caboclo que combateu ao lado do Exército Encantado liderado pelo monge José Maria, Vicente compôs a sua aquarela tendo como cenário a batalha que desencadeou a guerra, em 22 de setembro de 1912. Ocasião em que os caboclos impuseram uma sangrenta derrota aos soldados comandados pelo coronel João Gualberto.
O palco da Batalha do Irani se avizinha a menos de um quilômetro da residência de Vicente Telles e lá ainda repousam os restos mortais dos caboclos e do monge José Maria. Foi o estopim de um conflito marcado pela sua complexidade: da discussão dos novos limites geográficos entre Santa Catarina e Paraná, a sanha por poder dos coronéis e líderes políticos locais e a chegada da Estrada de Ferro Brasil-Rio Grande e a companhia norte-americana Southern Brazil Lumber Southern Brazil Lumber & Colonization Company, ambas controladas pelo magnata nova-iorquino Percival Farquhar. A população cabocla, até então dedicada à cultura de subsistência e à exploração da erva mate, se viu à margem do processo, ou melhor, expulsa de suas terras, marginalizada e perseguida.
A voz do sangue
Em sua missão histórica, Vicente Telles percorreu toda a região do conflito que, em seus quatro anos deixou um saldo de aproximadamente oito mil mortos. Munido do seu acordeão, ele venceu o silêncio daqueles que ainda temiam, décadas depois, de falar sobre os episódios. Em suas canções, traz a tragédia humana da guerra, mas exalta o espírito solidário dos caboclos, seu modo de vida simples e denuncia as injustiças sofridas por eles.
Em suas palavras, o Contestado foi maior que a Guerra de Canudos, porém, só não teve a sua dimensão literária e histórica reconhecida porque à época “não havia um Euclides da Cunha”. “Uma guerra pressupõe equiparação de forças e no Contestado não foi o que aconteceu. Foi o potencial bélico da República contra maltrapilhos, homens e mulheres famintos. Rigorosamente não foi guerra. Foi um genocídio!”, diz o folclorista.
Com o mesmo acordeão que desbravou memórias, Vicente decanta uma trova poderosa, calçada no seu magnetismo e na dramaticidade das histórias que já lhe renderam a alcunha de “o Quarto Monge do Contestado”. É o que o próprio chama de “a voz do sangue” e que dá vida a sua aquarela musical, carregada de lirismo e que se funde aos ritmos da época e aos costumes da gente cabocla: o chamamé, o vanerão, o xote e o bugio.
Personagens fictícios e históricos se fundem em jogos de sombras, projeções e luz em Aquarela do Contestado. À frente do trio familiar e acompanhado por um conjunto de sopros, percussão e cordas, Vicente Telles narra a história de uma família cabocla (mãe, pai e filho) tragada para a tragédia da guerra. Drama esse que ainda ecoa nos tempos atuais no Brasil e no mundo: dos conflitos sociais e pela terra, das guerras, do êxodo de refugiados.
Se em uma guerra a primeira vítima é a verdade, o tempo se encarrega de conferir a Vicente Telles e a sua Aquarela do Contestado o poder de fazer justiça histórica. “Minha música é movida pela dor. Em minhas composições, trabalho artesanalmente com palavras e notas musicais que nascem do sentimento histórico de nossa aldeia contestada”, define o mensageiro Vicente Telles.
Serviço:
O quê: Aquarela do Contestado (de Vicente Telles)
Quando: Dias 4 (sábado, às 20h30) e 5 (domingo, às 20h) de março
Local: Teatro Governador Pedro Ivo (Rodovia SC 401, Km 15, n° 4600, Saco Grande - Saco Grande, Florianópolis)
Ingressos: Entrada gratuita, sendo dois ingressos por pessoas, mediante retirada nas bilheterias dos Teatros Pedro Ivo, Álvaro de Carvalho (TAC) e do Centro Integrado de Cultura (CIC).
Informações: (48) 3665-1630
FICHA TÉCNICA
Narrações, acordeon, gaita ponto – Vicente Telles
Cantora – Nancy Lima
Arranjos, piano, teclados – Vicente de Paulo
Direção Musical - Guinha Ramires
Produção Musical - Nani Lobo
Confecção de silhuetas e sombras - César Rossi
Roteiro - Hedra Rockenbach e Nazareno Pereira
Direção de Cena – Hedra Rockenbach e Nazareno Pereira
Iluminação - Hedra Rockenbach
Direção de palco - Hedra Rockenbach
Direção de produção – Eveline Orth
Verão Cultural CIC 2017
Fonte: FCC
Projeto Verão Cultural atrai mais de 20 mil pessoas ao CIC em 2017
Programação que reuniu mais de 60 ações, entre espetáculos, cinema, exposições e oficinas encerra neste fim de semana e vai deixar saudades
O projeto Verão Cultural CIC 2017, da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), encerra sua programação neste fim de semana com sessões de filme gratuitas para adultos e crianças, além de exposições com visitação aberta das 10h às 21h. Nos dois meses intensos de atividades no Centro Integrado de Cultura (CIC), em Florianópolis, o público pode conferir espetáculos de música e teatro, cinema ao vivo, sessões gratuitas de filmes de diversos países, exposições, apresentações de piano, oficinas e conversas sobre artes que atraíram pelo menos 20 mil pessoas para prestigiar as mais de 60 ações.
O Verão CIC 2017 é resultado de uma pesquisa de demanda promovida pela FCC junto aos frequentadores do CIC, que apontou a necessidade de uma programação específica para os meses de janeiro e fevereiro, atendendo desde turistas e visitantes ao público de Florianópolis e região. O resultado não só corroborou as expectativas do público como servirá de modelo para novas ações do gênero pela FCC, segundo o presidente da instituição Rodolfo Pinto da Luz. “Queremos expandir o projeto e já estamos estudando a possibilidade de fazer uma edição para o Inverno para que possamos percorrer as regiões do Estado, levando uma programação pensada a partir dos projetos, ações e programas executados pela Fundação”, adianta.
PROGRAMAÇÃO DE 24 A 26 DE FEVEREIRO:
(sujeita a alterações)
24/02/2017 (sexta-feira):
Das 10h às 21h: Exposição #PorAí com fotos de Bruno Ropelato
Local: Museu da Imagem e do Som (MIS/SC)
Entrada gratuita
Das 10h às 21h: Exposição Guerra do Contestado - Arte e História com obras de Hassis
4º Ciclo de Exposições do MASC: Desenhos (Flávia Duzzo); The Final Cut (Karina Zen); Linha 3 (Sonia Beltrame); Tempo (Neide Pelaez de Campos); e Híbrido (Roberta Tassinari).
Local: Museu de Arte de Santa Catarina (Masc)
Entrada gratuita
20h: Filme Espíritos - A morte está ao seu lado
Local: Cinema do CIC
Entrada gratuita
25/02/2017 (sábado):
Das 10h às 21h: Exposição #PorAí com fotos de Bruno Ropelato
Local: Museu da Imagem e do Som (MIS/SC)
Entrada gratuita
Das 10h às 21h: Exposição Guerra do Contestado - Arte e História com obras de Hassis
4º Ciclo de Exposições do MASC: Desenhos (Flávia Duzzo); The Final Cut (Karina Zen); Linha 3 (Sonia Beltrame); Tempo (Neide Pelaez de Campos); e Híbrido (Roberta Tassinari).
Local: Museu de Arte de Santa Catarina (Masc)
Entrada gratuita
16h: Cineclube da Mostra de Cinema Infantil
Filme: O que queremos para o mundo?
Local: Cinema do CIC
Entrada gratuita
20h: Filme A Mulher de Preto
Local: Cinema do CIC
Entrada gratuita
26/02/2017 (domingo):
Das 10h às 21h: Exposição #PorAí com fotos de Bruno Ropelato
Local: Museu da Imagem e do Som (MIS/SC)
Entrada gratuita
Das 10h às 21h: Exposição Guerra do Contestado - Arte e História com obras de Hassis
4º Ciclo de Exposições do MASC: Desenhos (Flávia Duzzo); The Final Cut (Karina Zen); Linha 3 (Sonia Beltrame); Tempo (Neide Pelaez de Campos); e Híbrido (Roberta Tassinari).
Local: Museu de Arte de Santa Catarina (Masc)
Entrada gratuita
20h: Filme Espíritos - A morte está ao seu lado
Local: Cinema do CIC
Entrada gratuita
SOBRE AS ATRAÇÕES:
Exposição #PorAí: Com obras do fotógrafo Bruno Ropelato, a exposição traz recortes, fachadas, texturas e fragmentos da cidade por meio de fotos. A mostra é inclusiva, com acessibilidade para cegos.
Mais informações: http://www.fcc.sc.gov.br//
Exposição Guerra do Contestado - Arte e História - Hassis: Apresenta uma das séries mais importantes do artista Hassis, que em 2016 completaria 90 anos de idade. A exposição narra, por meio de 78 desenhos, a visão do artista sobre a Guerra do Contestado, que devastou parte de Santa Catarina e do Estado do Paraná. O destaque fica por conta do painel O Contestado – Terra Contestada, finalizado em 1985, dividido em sete módulos com um total de 12,6 metros de largura por 2,75 metros de altura de pintura em acrílico.
4º Ciclo de Exposições do MASC: apresenta os trabalhos de cinco artistas plásticas selecionadas - Desenhos, de Flávia Duzzo; The Final Cut, de Karina Zen; Linha 3, de Sonia Beltrame; Tempo, de Neide Pelaez de Campos; e Híbrido, de Roberta Tassinari.
Mais informações: http://www.fcc.sc.gov.br//
Filme A Mulher de Preto
Direção: James Watkins
Duração: 95 min
Ano: 2012
País: Reino unido, Canadá, Suécia
Gênero: Terror, Suspense
Classificação etária: 12 anos
Sinopse: Um jovem advogado, viúvo, pai de um doce menino, é enviado por seu escritório para regularizar os documentos de uma mansão abandonada, próximo a um vilarejo afastado, onde ele tem visões sinistras e a visita de uma mulher de preto. Ele inicia uma investigação despertando a irá dos moradores e mortes de crianças.
TRAILER: https://www.youtube.com/watch?
Filme Espíritos - A morte está ao seu lado
Direção: Banjong Pisanthanakun / Parkpoom Wongpoom
Duração: 97 min
Ano: 2004
País: Tailândia
Gênero: Terror / Mistério
Classificação etária: 14 anos
Sinopse: Este terror tailandês é um filme de primeira linha no gênero, levando o espectador à sensação de claustrofobia no quarto escuro e nas perseguições psicológicas. Um jovem fotógrafo e sua namorada descobrem sombras misteriosas em suas fotografias após um trágico acidente. Eles logo descobrem que você não pode escapar do seu passado, omissões e ações serão cobradas, sem parar na hora da morte.
TRAILER: https://www.youtube.com/watch?
Filme O que queremos para o mundo?
Direção: Igor Amin
Gênero: Ficção
País: Brasil
Ano: 2016
Duração: 70 min
Sinopse: Um filme infantojuvenil que conta a história de Luzia, uma menina introvertida, mas dona de um mundo interno movimentado, fértil e criativo. Quando o seu professor de música pede para a turma criar uma apresentação em grupo, Luz se vê obrigada a transmitir toda a sua criatividade e a tirar suas ideias do mental para o real. Com a ajuda das amigas Sol, Bela e Lua, o trabalho escolar se transforma em uma experiência única.